Iniciamos hoje a Quaresma de 2013.
Proponho uma caminhada realizada ao longo de 90 dias.
Comecemos por meditar o texto: a CINZA de Romano Guardini
Na orla do bosque cresce uma esporeira. Folhas verdes-escuras tão caprichosamente contornadas; docemente flexíveis e vigorosamente lançados os talos esguios; flores como que recortadas em seda espessa e dum azul luminosíssimo de turqueza que enche todo o ar em redor. Passasse agora alguém e cortasse a flor e depois, farto dela, a lançasse ao fogo... não passariam muitos momentos sem que toda aquela magnificência se convertesse em fina tira de parda cinza.
O que o fogo fez aqui em breves instantes, fá-lo o tempo continuamente em todo o ser vivo: no feto gracioso, no alto verbasco, no roble pujante. Fá-lo no ligeiro esquilo e no touro pesado. O resultado é sempre o mesmo, quer se atinja mais rapidamente quer mais lentamente; quer se trate duma ferida ou duma doença, de fogo ou de fome, ou de qualquer outra coisa: em dado momento, de toda aquela vida florescente só fica cinza.
Duma imponente figura, fica um insignificante montículo de pó, que a mais leve brisa faz desaparecer. Das cores luminosas fica a farinha pardacenta. Da vida toda fervente e sensível, fica terra miserável e inerte; ainda menos que terra: cinza!
Tal será a nossa sorte. Como nos causa arrepios quando olhamos para o sepulcro aberto e vemos junto de algumas ossadas um punhado de cinza parda!
“Lembra-te, homem, que és pó e em pó te hás-de tornar”!
Caducidade é o que significa a cinza. A nossa caducidade, não a dos outros. A nossa; a minha! Do meu passamento é que ela me fala, quando o sacerdote no início da Quaresma me desenha na fronte o sinal da cruz com a cinza dos ramos que um dia foram frescamente verdes, distribuídos no último domingo de Ramos:
“Lembra-te, homem, que és pó e em pó te hás-de tornar”!
Tudo se reduz a cinza. A minha casa, a minha roupa, mobília, utensílios e dinheiro; campo, prado e bosque. O cão que me acompanha e o animal que está no curral. A mão com que escrevo, o olho que lê, e todo o meu corpo. As pessoas que amei e as que odiei e as que temi. O que pareceu grande sobre a terra, o que me pareceu pequeno e o que me pareceu desprezível - tudo cinza, tudo...
A todos desejo um tempo favorável e uma caminhada até ao coração de Cristo.
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