quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Partilho este poema de José Tolentino Mendonça
O Presépio somos nós
É dentro de nós que Jesus nasce
Dentro destes gestos que em igual medida
a esperança e a sombra revestem
Dentro das nossas palavras e do seu tráfego sonâmbulo
Dentro do riso e da hesitação
Dentro do dom e da demora
Dentro do redemoinho e da prece
Dentro daquilo que não soubemos ou ainda não tentamos
O Presépio somos nós
É dentro de nós que Jesus nasce
Dentro de cada idade e estação
Dentro de cada encontro e de cada perda
Dentro do que cresce e do que se derruba
Dentro da pedra e do voo
Dentro do que em nós atravessa a água ou atravessa o fogo
Dentro da viagem e do caminho que sem saída parece
O Presépio somos nós
É dentro de nós que Jesus nasce
Dentro da alegria e da nudez do tempo
Dentro do calor da casa e do relento imprevisto
Dentro do declive e da planura
Dentro da lâmpada e do grito
Dentro da sede e da fonte
Dentro do agora e dentro do eterno
quarta-feira, 6 de março de 2013
O Teu Amor Que Nos Aceita Por Inteiro
Rezo nesta manhã o Teu amor, ó Deus. O Teu
amor que nos aceita por inteiro, que abraça
o que somos e o que não somos; o que nós
fomos e nos tornámos. O Teu amor
que ama as nossas possibilidades infinitas
e indefinidas; os nossos desabrochares
esperançosos e as nossas quedas
frustrantes; as nossas liberdades insensatas
e a nossa timidez hesitante. O Teu amor
ensina-nos a confiança e continuamente
relança a nossa história.
José Tolentino Mendonça, in Um Deus que dança
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Decálogo sobre o silêncio de Bento XVI
- O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo...
- No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos...
- É no silêncio, por exemplo, que se identificam os momentos mais autênticos da comunicação entre aqueles que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo enquanto sinais que manifestam a pessoa...
- No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento, que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão...
- Do silêncio, deriva uma comunicação ainda mais exigente, que faz apelo à sensibilidade e àquela capacidade de escuta que frequentemente revela a medida e a natureza dos laços...
- O silêncio é precioso para favorecer o necessário discernimento entre os inúmeros estímulos e as muitas respostas que recebemos, justamente para identificar e focalizar as perguntas verdadeiramente importantes...
- Nas diversas tradições religiosas, a solidão e o silêncio constituem espaços privilegiados para ajudar as pessoas a encontrar-se a si mesmas e àquela Verdade que dá sentido a todas as coisas...
- O Deus da revelação bíblica fala também sem palavras: “Como mostra a cruz de Cristo, Deus fala também por meio do seu silêncio...”
- Se Deus fala ao homem mesmo no silêncio, também o homem descobre no silêncio a possibilidade de falar com Deus e de Deus...
- Silêncio e palavra são ambos elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da Igreja para um renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
Hoje... a esta hora só me apetece o silêncio...
e a voz do salmista:
Ouvi, ó Deus, o meu clamor,
atendei a minha oração.
Dos confins da terra por Vós clamo,
quando me desfalece o coração;
levai-me para um rochedo distante:
Vós sois o meu refúgio,
uma torre forte contra o inimigo.
(Salmo 60)
Oração do justo, que espera a verdade.
e a voz do salmista:
Ouvi, ó Deus, o meu clamor,
atendei a minha oração.
Dos confins da terra por Vós clamo,
quando me desfalece o coração;
levai-me para um rochedo distante:
Vós sois o meu refúgio,
uma torre forte contra o inimigo.
(Salmo 60)
Oração do justo, que espera a verdade.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Para esta primeira semana da quaresma, proponho a reflexão.
Palavras da Alma de Mahatma Gandhi
Senhor, ajuda-me a dizer a verdade
diante dos fortes e a não dizer mentiras para ganhar o aplauso dos fracos.
Se me dás fortuna, não me tires a razão.
Se me dás sucesso, não me tires a humildade.
Se me dás humildade, não me tires a dignidade.
Ajuda-me a enxergar o outro lado da moeda.
Não me deixes acusar o outro
por traição aos demais, apenas por não pensar igual a mim.
Ensina-me a amar os outros como a mim mesmo.
Não deixes que me torne orgulhoso, se triunfo;
nem cair em desespero se fracasso.
Mas recorda-me que o fracasso é a experiência que precede o triunfo.
Ensina-me que perdoar é um sinal de grandeza
e que a vingança é um sinal de baixeza.
Se não me deres o êxito, dá-me forças para aprender com o fracasso.
Se eu ofender as pessoas, dá-me coragem para desculpar-me.
E se as pessoas me ofenderem, dá-me grandeza para perdoar-lhes.
Senhor, se eu me esquecer de Ti, nunca Te esqueças de mim.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
Iniciamos hoje a Quaresma de 2013.
Proponho uma caminhada realizada ao longo de 90 dias.
Comecemos por meditar o texto: a CINZA de Romano Guardini
Na orla do bosque cresce uma esporeira. Folhas verdes-escuras tão caprichosamente contornadas; docemente flexíveis e vigorosamente lançados os talos esguios; flores como que recortadas em seda espessa e dum azul luminosíssimo de turqueza que enche todo o ar em redor. Passasse agora alguém e cortasse a flor e depois, farto dela, a lançasse ao fogo... não passariam muitos momentos sem que toda aquela magnificência se convertesse em fina tira de parda cinza.
O que o fogo fez aqui em breves instantes, fá-lo o tempo continuamente em todo o ser vivo: no feto gracioso, no alto verbasco, no roble pujante. Fá-lo no ligeiro esquilo e no touro pesado. O resultado é sempre o mesmo, quer se atinja mais rapidamente quer mais lentamente; quer se trate duma ferida ou duma doença, de fogo ou de fome, ou de qualquer outra coisa: em dado momento, de toda aquela vida florescente só fica cinza.
Duma imponente figura, fica um insignificante montículo de pó, que a mais leve brisa faz desaparecer. Das cores luminosas fica a farinha pardacenta. Da vida toda fervente e sensível, fica terra miserável e inerte; ainda menos que terra: cinza!
Tal será a nossa sorte. Como nos causa arrepios quando olhamos para o sepulcro aberto e vemos junto de algumas ossadas um punhado de cinza parda!
“Lembra-te, homem, que és pó e em pó te hás-de tornar”!
Caducidade é o que significa a cinza. A nossa caducidade, não a dos outros. A nossa; a minha! Do meu passamento é que ela me fala, quando o sacerdote no início da Quaresma me desenha na fronte o sinal da cruz com a cinza dos ramos que um dia foram frescamente verdes, distribuídos no último domingo de Ramos:
“Lembra-te, homem, que és pó e em pó te hás-de tornar”!
Tudo se reduz a cinza. A minha casa, a minha roupa, mobília, utensílios e dinheiro; campo, prado e bosque. O cão que me acompanha e o animal que está no curral. A mão com que escrevo, o olho que lê, e todo o meu corpo. As pessoas que amei e as que odiei e as que temi. O que pareceu grande sobre a terra, o que me pareceu pequeno e o que me pareceu desprezível - tudo cinza, tudo...
A todos desejo um tempo favorável e uma caminhada até ao coração de Cristo.
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